sexta-feira, 14 de outubro de 2011

loucos sagrados: ocupem Wall Street













Estou contigo em Rockland
onde nós abraçamos e beijamos os Estados Unidos debaixo dos nossos lençóis os Estados Unidos que tossem toda a noite e não nos deixam dormir
(Allen Ginsberg in Howl)






loucos sagrados e joie de vivre













Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens (Coríntios 1:25)

Li ontem que os manifestantes do movimento Ocupem Wall Street seriam hoje despejados do Zucotti Park, anteriormente designado Liberty Plaza Park, agora rebaptizado Freedom Park, com o objectivo de limpar a praça para defesa da salubridade e segurança públicos. Acabo de saber que os proprietários da praça cancelaram a sua limpeza. Quarenta minutos antes da hora marcada para o ínicio do despejo a administração municipal anunciou publicamente a decisão da Brookfield Properties, o grupo imobiliário proprietário da praça Zucotti.

Em 2000 um ilustre professor de Planeamento Urbano e Design da Harvard Kennedy School, Jerold Kayden publicou um livro com o título Espaço Público de Posse Privada. O título, que Kayden assume como parodoxal, abriga um conceito que se quer provocador e estimulante que "faz parte de uma tendência de através de parcerias público-privadas responder às preocupações urbanas" (do prefácio). Uma tendência que Kayden faz remontar aos anos 60 do século passado. De facto em 1961 a ideia modernista (Le Corbusier) de "incentive zoning" é assumida pelo departamento da Planeamento de Nova Iorque através de uma resolução em que eram atribuidos ao promotores imobiliários que incluissem praças nos seus projectos bonus de construção de pisos adicionais, em torres de escritórios e apartamentos.

Zucotti Park é um dos 520 parques, praças ou passagens que resultam duma política de mais de meio século. John Zucotti (72) em honra do qual foi designada a praça depois reconstrução de 2006, na sequência do 11 de Setembro de 2001, é co-presidente do conselho de administração da Brookefield Properties e foi Presidente da Comissão de Planeamento de Nova Iorque entre 1973 e 75. A esta hora, confirmo pelo twitter de Adam Gabatt, os manifestantes continuam a ocupar a Zucotti Park: a Praça da Liberdade. No centro da praça está uma estrutura de aço vermelho de 21 metros de altura, chama-se: Joie de vivre.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Londres












Estou em Londres com a Carmo a fazer pesquisa bibliográfica e filmográfica com o apoio da FCT. Ao mesmo tempo, estamos a tentar pôr por ordem uma candidatura do Nucleo de Estudos Urbanos do Centro de Estudos Geográficos à FCT.

Sobre a acumulação primitiva do capital li o Marx mas ainda assim surpreenderam-me os filmes que tenho visto sobre o comércio de escravos pela evidência que proclamam de que as grandes fortunas, os faustosos edifícios Londrinos no bom estilo neo-clássico e o formidável avanço que foi a Revolução Industrial assentam nos 30 mihões de escravos ( dos quais apenas metade sobreviveram à viagem) que durante 150 anos alimentaram o comércio triangular entre África, As Antilhas e a Inglaterra.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Curvando o arco


Fresco na rocha,Tassili, Argélia 7,500 A.C.

"A mortalidade dos homens reside no facto de a vida individual,...,provir da vida biológica. Essa vida individual difere de todas as outras coisas pelo curso rectilíneo do seu movimento que, por assim dizer, intercepta o movimento circular da vida biológica. É isto a mortalidade: mover-se ao longo de uma linha recta num universo em que tudo o que se move o faz num sentido cíclico." Hannah Arendt in A Condição Humana


Procuro a relação entre percepção e mundo, procuro como quem caça...num ramo quebrado, na pégada imperceptivel, no cheiro do vento, na expectativa de compor uma representação feliz com minudências.

Cada um de nós constroi um modelo de percepção da realidade a partir do qual interage com ela: A nossa realidade não é "a realidade".

Quando fui para a Quinta do Monte Virgem comecei a saber os nomes das árvores, dos pássaros e dos animais ínfimos que habitam o solo, debaixo das folhas, entre as árvores que apodrecem, na terra cavada pela enxada. Às vezes mergulhava nesse mundo como se lhe pertencesse e isso chamou-me para o infinitamente pequeno. Comprei um microscópio. O mundo do microscópio desiludiu-me: Era como ir ao cinema, pior do que ir ao cinema, via um universo distante não estava nele. Estava do lado de cá a observar o lado de lá, era como observar a terra num planisfério. O mesmo se passou relativamente ao telescópio que comprei em saldos num supermercado.


Durante os nossos anos da Serra de Ossa quizemos curvar a nova vida. Sermos bichos de acordo com a natureza, lembro-me dos meus pesadelos de infância de estar debaixo da terra rodeado de animais repugnantes e como eles se foram convertendo em paz e húmus. Saber que a morte faz parte da vida é diferente de o sentir em cada dia e em cada estação do ano. No olhar do primeiro borrego que matei com a navalha recém afiada dissolvendo-se numa cavidade atrás da orelha. Na morte de todo o galinheiro feita por "saca-rabos" que deixaram todos os cadáveres intactos com excepção das marcas das garras no dorso das aves e o lugar nos pescoços onde lhes sugaram todo o sangue. Do fogo que destrui práticamente toda a floresta e o despontar dos primeiros rebentos nos jovens e negros sobreiros que cuidávamos mortos.

No estado de animalidade e de ausência de mundo em que viviamos aprendemos o refúgio nos territórios do espirito. A convivência com a morte e com a vida, sugeria-nos a contemplação da eternidade e o sítio onde viviamos inspirava-nos como tinha inspirado muitas gerações de monges que antes de nós tinham habitado aquela casa e tinham amanhado, muitas vezes ajardinado, aquelas terras. Hoje estamos na acção.

Para disparar uma seta é necessário dobrar o arco. Foi esta ideia e o texto da Arendt que cito como sub-titulo, que me inspirou na procura da relação entre e acção e a contemplação. Entre a seta e o arco. Entre a seta e o arco está a corda. A vida estará na tensão da corda?

terça-feira, 5 de maio de 2009

A La Minuta 1













Lendo a sina de Caravaggio


“puta de vida!”
Surpreendo-me com a dureza do tom. Duas mulheres conversam. A mais nova, bela, tem na cara as marcas que me lembram as mães da Quinta da Serra: sai de noite e chega à noite a casa, pensei.
É fim de tarde, apresso-me para a minha aula de Aristóteles, estamos na Ética a Nicómano:

“vida boa (felicidade) é a finalidade última da actividade humana”


Lisboa, Estação de Metro de Entrecampos, 19 de Fevereiro 2009


De Volta

Volto ao meu "o que estamos a fazer?". Volto a casa. Releio os posts antigos. Dou um salto ao "voz da quinta" se o "futuro é um presente melhorado" o que será o passado?

domingo, 21 de dezembro de 2008

Happy New Ear



Reproduzo o desejo de John Cage endereçado aos seus amigos, um desejo de renovação na forma de ouvir música, de ouvir.
Oxalá o novo ano nos traga um novo ouvido.
Um ouvido que nos permita ouvir o Outro:
- Não é precisamente a nossa surdez que o condena ao silêncio?