quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A arte do contexto



Quando olho para o bairro, quando olho para as nossas crianças, para os nossos jovens procuro sempre perceber o que estamos a fazer.

A fecundidade da nossa acção e também a eficácia do nosso trabalho depende do rigor do diagnóstico. A miopia - ver bem unicamente as coisas que nos estão próximas - não nos ajuda a acertar no alvo. Circunscrever o diagnóstico ao bairro é um erro. Temos de olhar para a cidade, para a escola e procurar agir.

A escola deveria ser mais inclusiva do que é. O sistema de ensino e a organização que lhe está subjacente deveria estar de acordo com as necessidades especificas do seu público-alvo. Escolas em territórios habitados por imigrantes teriam de se adaptar às suas necessidades de integração e desenvolvimento e não o contrário. Muitas vezes os projectos como o nosso são vistos como uma maneira de ajustar as crianças e jovens a uma escola-tipo abstracta. No limite estes projectos são sítios para onde se mandam as crianças com as quais a escola não consegue lidar. Agir com as escolas para encontrar modelos e práticas mais inclusivas é seguramente uma das grandes tarefas do nosso projecto.

As oportunidades ao nível da educação, formação e das saidas profissionais dos jovens estão limitadas por um facto aparentemente menor. O nosso modelo de mobilidade urbana está baseado no automóvel e a nossa rede de transporte pública é pouco eficiente. No caso especifico do Prior Velho isso aplica-se por maioria de razão. O Junilto entra às 8.30 h na escola em Benfica sai de casa às 6:00 h da manhã correndo o risco de, se tudo correr bem, "ir para lá dormir" ou, se tudo correr mal, chegar atrasado! A "moda" actual de estar a tirar a carta de condução, quase todos os jovens maiores de 18 anos estão ou querem tirar a carta, reflecte isso mesmo.

Muitos dos hábitos de consumo dos jovens que são julgados duma maneira apressada uma inversão inexplicável de prioridades e.g. roupas de marca, "tecnoluxúria", etc. estão profundamente ligados a uma reacção a contextos exclusivos. Tirar a carta para, a seguir, ter um automóvel insere-se aí.

Quando olho para o bairro, quando olho para as nossas crianças, para os nossos jovens, emerge esta evidência de que as causas dos problemas não estão dentro mas fora do bairro.

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