segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Chamar o outro pelo seu nome



No principio, animados de boas intenções, a capacitação aparecia como algo que estavamos ali para oferecer através duma acção que procurava a eficácia. De alguma maneira tratava-se de um exercicio empresarial éticamente conduzido. Identificar bem os nossos clientes e as suas necessidades, definir o mix de produtos capaz de as satisfazer, planear e controlar, dirigir e organizar os recursos de modo a procurar uma eficiência e eficácia que deixasse todos satisfeitos: O nosso público-alvo, o programa Escolhas, o Consórcio do Projecto e a equipa.

A eficácia gera coisas, a fertilidade gera seres. Concentrados na eficácia da afectação de recursos vimo-nos conduzidos a relações instrumentais e até de paternalismo/dependência, possívelmente o erro mais grosseiro de intervenções deste tipo. Com objectivos quantitativos e qualitativos para cumprir o caminho mais fácil é fazer o exercício já sabendo a resposta ou seja submetendo os meios aos objectivos e o processo ao resultado. Ora a nossa experiência ensina-nos justamente o contrário: o processo define o resultado. A fertilidade emerge de relações constitutivas. Relações entre pessoas que decidem trabalhar em conjunto. Dessas relações brota um poder especifíco uma capacitação que é apropriada de diferentes maneiras e em livre arbítrio por cada uma das “personas” intervenientes. Neste sentido a capacitação não se oferece, produz-se na relação e não é de só uma das partes mas de todos os sujeitos da relação.

A primeira reunião, em Abril, com a comissão de pais é um exemplo luminoso desta capacitação mútua , dos Pais e da Equipa, gerada por uma relação constitutiva voltada para a melhoria do desempenho escolar.

Um relação constitutiva, uma relação fértil, pressupõe que designemos o outro pelo nome. O abandono da abstração dos numeros e das generalidades qualitativas assumindo o primórdio do sujeito. A revelação acontece a seguir. O sujeito, o substantivo tem muitos adjectivos. Cada pessoa é uma multiplicidade de identidades. Uma relação fértil parte da identificação daquilo que realmente nós somos e daquilo que realmente o outro é. Não daquilo que gostariamos que o outro fosse. Mas assume a possibilidade de mudança, a possibilidade de transcendência a partir do poder gerado no próprio seio da relação. Tal é a natureza da nossa Utopia.

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