segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Fraternidade e Comunidade














A segunda reflexão começa onde a primeira termina. Vimos como o papel da mulher ligando o mundo e as origens a torna central na resolução de um conflito entre espaços, tempos e naturalmente, culturas distintas. A resolução dialéctica dessa contradição produz mundo e cidadania mas a verdade é que o contexto tende muitas vezes a reproduzir ampliadamente as condições de partida. Que condições são essas?
Voltemos à tabanka- à tabanka guineense- a tabanca como aldeia, como aldeia fortificada que se protege do exterior, gera dentro de si uma comunidade ou uma fraternidade? Deixamos a pergunta sem resposta. O que nos importa responder é se transposto para um novo espaço – neste caso o território da Quinta da Serra – os memes culturais que geram a tabanka produzem uma fraternidade ou uma comunidade?
Paramos um pouco para esclarecer conceitos. Fraternidade entende-se aqui como uma forma de organização dos oprimidos, dos humilhados, daqueles que privados de luz procuram o calor e a solidariedade dos seus pares. Mas mais que uma forma de organização podemos identificá-la como um processo segundo o qual os perseguidos ou marginalizados vão cerrando fileiras até não existir mundo entre eles. E a ausência de mundo - como dizia Arendt- “é, infelizmente, sempre uma forma de barbárie”.
Neste sentido a fraternidade não sobrevive à libertação e à luz.
Conseguimos identificar no Bairro da Quinta da Serra muitos elementos de fraternidade. Muitas vezes nos deixàmos embalar pela ideia de sermos aceites por essa fraternidade como um privilégio de “eu e tu contra a mundo”. Como não podia deixar de ser nunca fomos aceites mas se o tivessemos sido passariamos a parte do problema e não da solução. Continuando com Arendt: “Um tal privilégio paga-se caro, muitas vezes acompanha uma perda de mundo tão radical, uma atrofia tão terrível de todos os orgãos com que a ele reagimos- a começar pelo senso comum…e passando pelo sentido da beleza, ou gosto, com que amamos o mundo- que nos casos mais extremos…podemos falar de uma verdadeira ausência de mundo”.
Ora precisamente o nosso papel na Quinta da Serra é trabalhar com a comunidade para abrir ao mundo. Para dar luz e não o contrário.
Interessa-nos a acção, acção implica escolhas e escolhas bebem pensamos nós, da base moral que vamos construindo articulada com as possibilidades geradas no contexto. Todas estas categorias interagem. Fazer parte da fraternidade não é uma possibilidade. Não o seriamos mesmo que passássemos a viver no bairro partilhando integralmente o dia a dia dos seus habitantes. Mas o que queremos dizer é que mesmo que isso fosse uma possibilidade ela condenaria o projecto na sua essência. A solução está na alteridade. Assumir a alteridade num contexto de uma comunidade orgânica, aberta ao mundo e inteligente.

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